Fim do foro privilegiado: o que muda na Justiça e como isso afeta a sociedade
Por Paulo Vitor Faria da Encarnação – OAB/ES 33.819 | Santos Faria Sociedade de Advogados
O fim do foro privilegiado tem ganhado destaque no cenário jurídico e político brasileiro. Essa mudança afeta diretamente o modo como autoridades públicas são julgadas e, portanto, representa uma transformação relevante no sistema de Justiça. Assim, compreender seus fundamentos, limites e impactos é essencial para avaliar o fortalecimento da igualdade e da confiança social nas instituições.
O que é o foro privilegiado e por que ele está em debate
O foro privilegiado é uma prerrogativa concedida a determinadas autoridades públicas, permitindo que seus processos criminais sejam julgados em tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Originalmente, essa regra buscava proteger a independência dos cargos públicos. Entretanto, ao longo dos anos, o instituto passou a gerar críticas por dificultar o acesso da sociedade à justiça e criar percepção de desigualdade. Além disso, muitos casos se arrastaram por anos, alimentando a sensação de impunidade.
Decisões recentes e mudanças práticas no foro privilegiado
Nos últimos anos, o STF e o STJ promoveram avanços significativos. O STF delimitou o foro privilegiado apenas para crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados diretamente à função (ADI 4.430, rel.ª min.ª Rosa Weber, j. 27/11/2018). Já o STJ confirmou que a prerrogativa termina automaticamente com a perda do cargo público (HC 462.361, min.ª Laurita Vaz, j. 10/03/2020). Desse modo, as cortes reforçaram que o foro não é privilégio pessoal, mas instrumento funcional, sujeito a controle constitucional.
Fundamentos constitucionais e argumentos jurídicos
O debate sobre o fim do foro privilegiado envolve princípios basilares da Constituição Federal. O art. 5º garante a isonomia, ou seja, a igualdade de todos perante a lei. Por isso, restringir o foro significa aproximar autoridades e cidadãos sob o mesmo padrão de responsabilidade. Como destacou José Afonso da Silva, “o foro privilegiado, ao invés de proteger a autoridade, converte-se em obstáculo à justiça”. Assim, eliminar ou limitar essa prerrogativa contribui para uma Justiça mais republicana e transparente.
Impactos práticos para a sociedade e para o sistema judicial
O fim do foro privilegiado promove resultados concretos na eficiência e na transparência do Judiciário. Ao deslocar os processos para as instâncias ordinárias, amplia-se a fiscalização, aumenta-se a velocidade processual e reduz-se o risco de prescrição. Além disso, a mudança fortalece a accountability de autoridades, combate a corrupção e estimula o controle social. Dessa forma, o cidadão passa a enxergar maior coerência entre o discurso de igualdade e a prática judicial.
Portanto, o debate não se limita ao campo técnico. Ele reflete uma mudança cultural que aproxima o Estado de seus princípios democráticos. Quando a Justiça trata igualmente todas as pessoas, reforça-se a credibilidade das instituições e consolida-se a confiança pública.
Conclusão
O fim do foro privilegiado representa mais do que uma alteração processual. Trata-se de um passo decisivo para uma Justiça mais acessível e igualitária. Essa transformação exige acompanhamento constante da sociedade e dos operadores do Direito, pois o fortalecimento da democracia depende da atuação ética e vigilante de todos. Assim, a evolução institucional deve ser entendida como uma oportunidade de aperfeiçoamento contínuo do sistema jurídico.
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